terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A vida é injusta

Você nasce. Aí começa a crescer. Percebe que sua mãe é a melhor pessoa do mundo e seu pai é seu super herói. Você não tem motivo nenhum pra sentir ódio ou raiva. Musica te faz bem. Seus brinquedos e seus irmaos sao seus maiores companheiros. Brincar é tudo o que há de melhor no mundo. Toddynho combina perfeitamente com Castelo Rá Tim Bum, Goku é tão foda quanto deus, Dragonball e Pokemon viram religião, filosofia de vida. Aí vem os esportes. O futebol na rua com a molecada, as risadas, os dedos esfolados, as traves de chinelo. As lutas, as corridas, os mergulhos, as pipas, os doces. Tudo é doce e não existe preocupação. Só que um dia você se dá conta de que as coisas já não tem tanta graça. Sua aparencia te preocupa, passa a ser mais importante que o carro do churros. Você se sente estranho quase sempre. Deslocado, no lugar errado e na hora errada do mundo inteiro. Começa a ter desejos que te deixam envergonhado, começa a considerar a ideia de pecado. Só que a pressao dentro de você é tanta, que passa então a se rebelar contra si mesmo em busca de preencher um vazio. Um vazio que é maior que um buraco negro no espaço e que vai te torturar sem pena. Vem as alternativas. Amigos, que preenchem parte do espaço do buraco negro como um aerosol que se dissipa no ar com o passar do tempo. Bebidas, drogas, que te tiram de perto do vazio e te levam pra um lugar estranho dentro da sua própria cabeça. Sexo, que faz você achar que o buraco negro dentro de você era mentira. Então cansado de lutar contra si mesmo, você encara o vazio enorme dentro de si, e tenta aprender com ele. Passa anos levando-o consigo ao trabalho todos os dias, porque você tem que trabalhar. Então um dia, o buraco negro e vazio que te ocupa, começa a lhe sorrir, e você, ao sorrir de volta, vê alguém através dele. E então, percebe que não é o único estranho no mundo a ter um vazio amargurado como bicho de estimação. E isso acaba te aproximando de um semelhante. Até que, sem perceber, você se dá conta de que seu vazio negro amargurado se uniu ao buraco negro angustiante do semelhante, levando os dois a um abismo negro de instabilidade e incertezas que as vezes, as pessoas chamam de amor. É tarde demais pra retornar, e mesmo se conseguir, quando retornar a superfície da realidade, seu vazio será dez vezes maior, levando junto pra escuridão as poucas coisas que aliviava. A vida não é justa, não é mesmo? Mas ainda é possível confiar uns nos outros pra nos puxar do abismo que existe dentro de todos nós.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Mestre

Por muito tempo eu fui um otário. Mas agora eu vou falar.
Eu era só um moleque sem qualquer perspectiva de vida, ou era isso que eu achava. E o Eduardo um dia me encontrou, no canto da sala de aula lendo um livro... Hemingway eu acho. Me perguntou se eu estava gostando, eu abanei a cabeça respondendo que sim, ele sorriu de volta, com os olhos brilhando e voltou sua atenção ao resto da sala pra qual dava aula. Então eu percebi que alguém finalmente tinha percebido que eu existia. E pelo jeito eu e o Professor Eduardo tínhamos algo em comum.

Com todos os meus problemas de auto-estima, eu percebi que seria difícil me aproximar de Eduardo. Mas aí, então ele se aproximou. Veio com um exemplar de "O Cheiro do Ralo" pra eu ler, e eu fiquei fascinado não só pela história mas também pelo ato. Então viramos amigos, eu com meus 17 anos e ele com seus 34. Conversávamos pouco mas Eduardo sempre foi diferente comigo em detrimento dos outros alunos. Em geral ele dava palpites e tecia suaves comentários aos outros alunos, mas a mim, eu tinha relatórios completos sobre a sua vida.

Certo dia ele me chamou para uma conversa de homem para homem, eu estava próximo de completar 18 invernos. Me perguntou o que eu queria ser da vida, me disse o passo a passo e depositou toda confiança em mim.

Muito dele está em mim, inclusive o medo do fracasso. Por mais incrível e amado que Eduardo seja, o trauma de ser quem ele é, não é desejado por ninguém. Um homem que nunca se casou, que mora com a mãe, que sonha em ter filhos mas sabe que não os terá, e cuja a maior perspectiva de vida é ficar velho, se aposentar e morrer, talvez tenha consciência de que seu maior legado na Terra sejam seus alunos, e aqueles que como eu, acharam o caminho certo.

Então, tal qual um legítimo mestre, ele some. Percebe que existem outras andorinhas que precisam aprender a voar, se abdica de realizar os seus próprios sonhos para se dedicar a confiar nos sonhos e talentos de garotos sem perspectivas como eu.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A mancha


Deixa a grande e vermelha de Júpiter no chinelo, fácil, fácil. Resto de petróleo no mar? Pff, aquela coisa roxa na sua perna foi muito mais danosa.

Eu lembro, até hoje. A pancada. O "uuuuuh" da galera assistindo o jogo. Você saindo mancando. Tudo isso de uma beleza poética tão singela * _ *

Quantas vezes não lembramos daquilo, anos depois? Aquela mancha foi um marco. Lembra, dias depois do acidente, você em público com a barra da calça levantada? Não fazia ideia do motivo de você ficar daquele jeito, até que alguém falou (foi você?) de que até o contato da roupa na pele lesionada doía.

Eu me diverti com aquilo. Semanas depois, eu também tomei uma queda e fiquei todo estropiado. Nada da magnitude daquele mar de sangue coalhado (sei que não é isso) da sua perna, porém. E você sabe, sempre que eu ria de algo que te sucedia, acontecia comigo depois.

Mas...aquela coisa roxa, aquela feiura contrastando com a alvura da sua pele...me marcou de alguma forma. Talvez ali eu tenha conseguido vislumbrar finalmente um pouco da sua humanidade, um pouco de você fora da sua Fortaleza da Solidão. Como no dia em que te peguei cantando. Por favor, não me diga que minha memória tá certa e que foi "Mais uma vez", do Legião Urbana. Essa música também é uma marca. 

Naquela minha velha conta de e-mail, sua mensagem com a letra dessa canção me dando forças tá marcada, categorizei-a também. Uma mancha, mas dessa vez alaranjada, na alvura das minhas lembranças.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Se por acaso pensa, que vou me entregar a você assim, por palavras assim, está enganado sim.
Palavras assim são entregues a mim.

Agora se quiser, se entregar as palavras, que a mim são entregues, somente se atreva, se couber dentre estas.

Afinal não vou receber, não vou ler, nada daquilo que não seja pra mim, fora escrito pra mim, caiba dentro de mim.

Pode ser que um dia, eu te escreva, te entregue, te leia.
Cabendo você em minhas palavras assim, que se entregam a mim.



COMPLEXA OBSERVAÇÃO


Sei que as rosas não falam, mas não precisa;
Sei que os bebês não contactuam, mas sorriem;
Sei que o dia acaba, mas temos o dia;
Sei que o frio nos congela, mas também nos aproxima;
Sei que a boa música é pra poucos, mas que bom que é pra mim,

Sei que muitos se fecham aos detalhes, mas sou observador,
Sei que a vida pode ser vadia, mas tenho meus objetivos...
sei que sei e nada sei, sei que a vida é passageira, mas passo junto dela;
Sei que escutar é maravilhoso, mas seleciono o que quero ouvir;

Sei de hoje com seus detalhes, no amanhã não sei de mim pra mim! Complexo.

A poesia prevalece?

Era uma vez uma garota meio complicada que um dia, descobriu no seu computador algumas músicas diferentes do rock n roll que estava habituada a ouvir. Eram músicas em português, de cunho crítico social, ou românticas, ou folclóricas, ou eletrônicas mas todas carregadas de algo que não existia na música brasileira há muito tempo: poesia. Aquelas músicas começaram a tomar um espaço cada vez mais amplo na rotina daquela menina, e a playlist onde se encontravam tais canções no iPod foi ficando gorda.
Era possível ouvir aquelas canções em qualquer ocasião do dia, pois elas falavam sobre todas as coisas. Se estivesse dentro do trem, havia a que falasse de um certo monstro que engolia o bem estar das pessoas. Se estivesse em casa, sozinho, havia aquela que falava sobre uma forma curiosa de comparar a sua fé ao seu café. E se estivesse no mar, tinha aquela que contava a linda estória de uma garota cujo o mar se apaixonou.
Havia ainda muitas outras, cada qual numa leva sempre de 19 canções por álbum, de um grupo de muitas pessoas que se entitulavam "trupe", e a garota gostou daquilo. Não era uma banda, não era um mero grupo, não eram só artistas, eram uma trupe. Eram originais, diferentes, únicos. Suas canções eram um marco tanto para a garota complicada que relacionava sempre a trupe a belas manhãs ensolaradas com gente feliz descendo do ônibus rumo ao trabalho, quanto para a própria música brasileira que não tinha nada assim tão cativante a pelo menos 20 anos.
Então, os anos dourados, a melhor fase da vida daquela garota foi marcada pela música cativante da trupe de rosto pintado que viera da sua cidade vizinha.
O tempo passou, como é o normal de ser. A garota cresceu, virou então uma mulher ainda mais complicada e nem mesmo a música era capaz de ajudá-la novamente. Mas mesmo que fosse capaz, a tal trupe que fazia parte da sua história, já não era a mesma. Não se parecia mais com uma trupe. Embora o número de fãs tenha aumentado mais do que ela mesma esperava (e desejasse pois tinha até ciúmes da trupe), a trupe agora era apenas uma banda. Suas canções não tinham estórias. Suas perfomances de palco não tinham mais brilho. Suas vozes eram por demais ensaiadas. Suas letras pareciam compradas em qualquer folhetim. Era o fim de uma trupe e o início de (mais) uma banda.
Era a invalidação de todo um período da vida daquela garota. Era a anulação de um estado de bem, como se tudo tivesse sido uma farsa.
Via filas de fãs para o show da trupe-banda, mas sabia que nenhum deles ali sentia em seu estômago o queimar adocicado da ansiedade por algo que amava.
É, talvez a garota amasse a trupe. Mas agora já não mais. Em seu peito havia a marca de uma chama que queimava "só enquanto eu respirar" ela repetia com os olhos carregados de lagrimas. Em sua mente, nas suas memórias, havia um epitáfio curto e sombrio escrito "aqui jaz O Teatro Mágico, uma trupe que já foi".

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Tem gente que a gente gosta. E perde.

Tem gente que a gente gosta. Gosta de conversar, de saber como está, de dar risada.
Até que na vida acontece uma catástrofe, algo do tipo "o que fazíamos juntos e deu errado é completamente culpa sua!". Essa pessoa se afasta de você, e continua cheia de si. Te olha de um jeito estranho, você cumprimenta, recebe um oi seco e um balançar de cabeça pra cima e pra baixo, afirmando o oi, ou coisa assim. 

E você perde a alegria de conversar, de saber como está, de dar risada junto. 
Sente falta, mas de que adianta? Tem gente que lhe olha com interesse e quando este não é atendido, coloca a culpa em você. Geralmente a culpa é bem maior que a da quebra de expectativa, na verdade, porque a pessoa sabe que tinha com quem contar e perdeu,  achando ser por conta do seu "erro".
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Queria escrever a lição aprendida nisso. Ainda não aprendi, então talvez isto ainda me ocorra algumas vezes mais.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

É necessário voltar ao começo

Estive por dois meses pensando em como seria a minha volta para o porto das palavras.

Pois bem, o porto das palavras... é assim que agora eu defino. Um porto, que para mim é sempre noite, tem sempre uma lua prata e uma infinidade de água a frente que me leva por caminhos subconhecidos, com todos os tons de todas as cores e todas as intenções e sentimentos. Uma barca amarelada era aquela que me levava aonde linhas prateadas entranhavam, entravam nos meus desejos, se enroscavam nos meus pensamentos mais encardidos, arrancavam os suspiros e os enfiava entre linhas.

Linhas prateadas.

Elas se emaranhavam umas nas outras, a água quase sumindo entre as linhas prateadas trançando-se, então, a barca estremecia, soltava um barulho, como um rugido, e tudo explodia como uma briga de travesseiros. Ficava tudo branco em pluma, suave como um copo de leite. Eu estive cega, perdida no mar de ideias, sem ter como voltar. Perdida por dias que mais pareciam anos. Perdi tudo, meus sentimentos, minhas emoções, minhas ideias que se misturaram ao mar de leite, e finalmente, minhas palavras.

Por quem os sinos dobram.

Havia um único ponto em meio ao mar de cola, que eu demorei para perceber. Comecei a ouví-lo muito longe, pulsando, bombeando, batendo, rugindo, cada vez mais forte. Era um coração. O vermelho inundou minha vista, jatos de sangue eram lançados na minha face tal qual um tapa na cara. Então acordei. Ou desmaiei. Abri os olhos sob uma forte luz clara. Era a lua prata, revelando mais do que linhas no mar, revelando o porto das palavras, onde era necessário voltar. É necessário voltar ao começo.