segunda-feira, 20 de maio de 2013

Chuva



"Não gosto de versos."
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Percebo que ando,
Porém não sinto as pernas
Moverem-se para isso.
É como se  andasse com os pés de outros.

Levado por sensações frias,
Que como mãos fortes,
Me conduzem, inexoravelmente,
Ao meu destino.

Vejo tudo sem abrir os olhos,
Através da pequena janela.
Mas estou tão distante,
Que minha respiração não embaça o vidro.

Talvez seja o sono,
minhas pálpebras estão pesadas.
Queria abrir os olhos e ver o céu,
Que deve estar cinzento lá fora.

Pingos de chuva batem na janela,
Percebo isso, de olhos cerrados ainda.
São de um ritmo estranho,
Como de pessoas às lágrimas.

Tenho um pouco de frio,
Mas estou vestido
Com uma roupa que caiu-me tão bem...
Acho que nunca mais vou tirá-la;

A chuva atrapalha minha mudança,
Coisa essa que não queria tanto fazer.
Vou para a casa destinada aos meus pais, 
Mas que precisei primeiro.

A evolução psicológica através do rock 'n roll e seus mais variados níveis

Existe uma teoria positivista que afirma que para cada fase da vida existem coisas específicas. Não é uma verdade, mas entendê-la com  a representação abaixo fica mais fácil. O fato é que talvez falte bandas ou artistas para enquadrar nos mais variados níveis  uma limitação com a qual a autora que vos escreve ainda tenta lidar. Além do mais, como nada abaixo é verdade, não precisa ser levado a sério (bem como o reconhecimento de alguma possível semelhança com a realidade). 


Vamos aos níveis, do menos complexo para o nível máximo. 


Nível 1: é o típico poser, indivíduo que conhece muito de rock 'n roll manjado. Muito do que toca em rádios. Sabe aquelas rádios de TV a cabo? Que se for pra tocar alguma do Slipknot com certeza tocará Vermillion ou Before I Forget, se for pra tocar Guns'n Roses, tocará Sweet Child O' mine? Então, esse indivíduo é o expert em rádio supostamente de rock. Ele conhece tudo sobre músicas manjadas. 

Suas bandas preferidas são Guns'n Roses, Aerosmith, Queen, Ramones, Evanescence e Nickelback.
Risco de ser poser: 

Nível 2: indivíduo indierocker. Este modelo é um pouco recente, embora a vertente do rock 'n roll denominada indie (de independent) tenha surgido ha muitos anos, com Velvet Underground, David Bowie e até mesmo Pink Floyd, bandas como Foster The People, Arctic Monkeys, The Killers, The Strokes e Black Keys tem trazido fãs no carreto do caminhão, fãs nem sempre fiéis. O caso do indierocker é até preocupante. 
Um indivíduo gostou a vida toda de Legião Urbana e Los Hermanos, duas bandas melancólicas que não existem mais, por exemplo. A solução é gostar do que lhe é mais familiar, mais próximo por causa das letras e o jeito de cantar. Neste caso, as bandas que melhor representam são os brasileiros Mop Top, Vanguart, Vivendo do Ócio, Rock Rocket, Legião Urbana, Los Hermanos e os internacionais já citados acima e mais uma leva de bandas recentes como The Kooks e Alabama Shake, Kings Of Leon e Kaiser Chiefs. 
Risco de ser poser:  
Nível 3: o doente revoltado. Aquele que grita a letra das músicas, que nem sempre sabe o que diz a letra da música, mas berra ela assim mesmo. Neste nível é possível enquadrar um número considerável de bandas e vertentes. Qualquer banda screamo, por exemplo, se enquadra neste nível. Hardcore nacional e neo-punk também podem ser incluídos, qualquer banda que vá de Linkin Park, Limp Bizkit e A Day To Remember até Slipknot, Rammstein, System of a Down e até Incubus. Ou seja, praticamente qualquer banda com mais de um single de cunho crítico social. Além das bandas já citadas, acrescente Rise Against, Rancore, Sugar Kane, Charlie Brown Jr,  Asking Alexandria, Nightwish, Envydust e a grande Avenged Sevenfold. 
Risco de ser poser: 
Nível 4: o viajandão. É o indivíduo que está quase transcendendo. Ele tem reflexões profundas ouvindo músicas de rock progressivo. Praticamente todas as suas bandas preferidas já acabaram, ou se não, já não são as mesmas de quando estavam no auge. Mas ele não se importa com o fato de não ter novidades sobre essas bandas, o que já existe delas ainda tem muito a lhe dizer. Ele só tem que se atentar a um fato: é neste nível que o indivíduo está mais aberto para outros gêneros musicais, o mais perigoso é a MPB e o Blues. Uma vez ouvindo Com Açúcar, Com Afeto, jamais haverá volta do gosto por apenas rock. Os principais representantes deste fabuloso nível pode ser Pink Floyd, Led Zeppelin, Janis Joplin, Raul Seixas, Creedance Clearwater Revival, Os Mutantes e  The Doors. Mas qualquer outra banda entre 1960 a 1978 com letras reflexivas e faixas com mais de 9 minutos cujo o solo da guitarra dura 5 minutos pode se enquadrar neste nível. Este nível só pode ser alcançado com no mínimo 5 anos de culto aos deuses da guitarra e da reflexão.  
Risco de ser poser: 0 

Nível 5: o classicista. Ele é quase o nível 1, mas com uma diferença fundamental: ele conhece de verdade o que está ouvindo. Ele curte todas as bandas clássicas do Rock. De Ozzy a Alice Cooper, de Nirvana a Iron Maiden. Ele conhece discografia de no mínimo 250 bandas, discografia completa, letras de qualquer música incluindo não-single na ponta da língua. Este nível é o chamado geek musical, uma enciclopédia do rock. Corre o risco de ser confundido com o poser típico do nível 1, mas meia hora de conversa sobre Jerry Lee Lewis pode mudar isso. Pode acontecer alguma grande decepção e o indivíduo classicista ao passar pelo nível 4, ter seguido outro gênero musical paralelamente ao seu desenvolvimento no rock. O mais recorrente é o Blues e no caso de uma decepção (que vai desde um divórcio em até o fim de uma banda) o rock pode ser deixado de lado. 


Representantes: superficialmente demonstrando um nível tão amplo que inclui várias bandas já citadas em outros níveis,  temos Eric Clapton, Ramones, Metallica, Jimmi Hendrix, U2, Foo Fighters, Nirvana, Johnny Cash, Elvis Costello, Raul Seixas, Titãs, Coldplay, Oasis, Bob Dylan e qualquer banda que toque alguma música que não esteja na moda por mais de 5 vezes numa rádio devidamente rock. Curiosidade: uma banda que sempre representa muito bem este nível é a trash Velhas Virgens, sabe-se la o porquê.
Risco de ser poser: 
Nível 6: o rockeiro de fato. Ele já ouviu tudo o que podia. Já foi tipicamente poser ouvindo apenas o que tocava no rádio. Ele já foi indierocker ouvindo e reproduzindo Strokes na sua guitarra até seus dedos sangrarem. Ele ja estourou a garganta gritando com o Chester do Linkin Park e já entrou em bad trip ouvindo Shine On You Crazy Diamond do Pink Floyd. Ele devorou álbuns e conheceu tudo o que podia sobre tudo o que já ouviu. Ele estava pronto para os grandes. The Beatles foi o primeiro. Ouviu a discografia várias vezes e demorou anos para perceber que Beatles era diferente. Não seria a repetição que traria para ele algum significado. Seria o quanto uma canção podia marcar sua vida. 

Depois foi a vez de Elvis. O rei. 

Era difícil precisar o quanto ele era culpado por tudo aquilo. Por todo o seu desenvolvimento musical. 

E por último, Rolling Stones. Era sua vida, a música. Cada barulho da sua rotina era uma música. 

Ele tinha atingido o nível máximo da evolução psicológica através do rock 'n roll, poderia se tornar um guru para as novas gerações. 



“coisas-que-você-precisa-saber” sobre o Metrô


Primeiramente, o post a seguir não tratará apenas do metrô, mas também do trem, Mafersa, Alstom, CPTM, ViaQuatro, Fepasa ou qualquer outro sinônimo que você conheça da “minhoca de metal que corta as ruas”.
É o seguinte: sabe aquilo que faz parte da sua rotina, que acaba com você, te cansa, você detesta e se pudesse nunca mais veria de novo, mas mesmo assim, sabe que isso é impossível porque tudo o que é bom é relacionado a isso e no fim você não tem nenhuma chance de eliminá-lo? O metrô é assim, principalmente em São Paulo. Se tornou a cara da cidade, já que você consegue ir para qualquer canto apenas com uma passagem de 3,00 reais. Só que tem coisas que você precisa saber.
  • Fuja para as colinas se por acaso tiver que entrar numa estação de metrô próximo a alguma instituição de ensino superior. É aterrador se sentir em um enlatado com um bando de estudantes cheios de livros e uniforme do curso de Educação Física encharcado de suor. Fuja, é sério.
  • Horário de pico é balela para algumas estações. Sé, Barra Funda, Luz, Brás e principalmente Pinheiros, não existe essa história de horário de pico. Todo horário é de pico para estas estações. É comum ouvir algumas recomendações de gente mais velha antes de começar a enfrentar os trens e metrôs, como a famosa “evite a Sé as 6 da tarde”, no caso, o correto seria adaptar para “evite a Sé”, somente.
  • Quanto mais antiga a linha, mais tempo no trem. Existem linhas pré-históricas por aí. Em São Paulo, as linhas 7, 8 e 9  da CPTM surgiram em tempos muito remotos e mesmo com os novos trens (aqueles trens sem divisões, que liga um vagão ao outro com sanfonas), não conseguem resolver este problema da lentidão devido ao desgaste da linha. Na verdade, a linha 7 é um caso perdido em São Paulo. É, sem sombra de dúvidas, a pior linha de toda a malha ferroviária, e talvez por isso os trens mais antigos circule nela, ou o contrário. A linha 7 também é a única linha cuja a voz que anuncia as estações não foi padronizada. Há cerca de 5 anos, todos os trens e metrôs passaram por uma padronização cuja a voz que anuncia as estações é senão a mesma, muito parecida com a voz da mulher do Avast. EXCEPTO a linha 7, Rubi da CPTM que continua com a voz de vendedor de churros em todas as estações, chamando a atenção vezes ou outra de quem segura a porta ou quem senta no meio do vagão.
  • Primeiros trens do dia são lendários. Isso vale para território nacional, isso é regra básica de convivência no trem ou metrô. Se você entrar no primeiro metrô do dia, você verá gente vomitada, bebâda, chapada, cambaleando, ensanguentada, sem sapatos, com roupas rasgadas,  tatuagem nos olhos, portando armas de fogo, quase nú, pedindo dinheiro, encharcado de cerveja, todo e qualquer tipo de gente insana voltando da noite. Em São Paulo, a maior parte é facilmente encontrada na Linha Amarela, que vem da Av. Paulista. Observe sempre ao sentar num banco, ele pode estar vomitado.
  • Mendigos! Toda estação, repito, TODA ESTAÇÃO, tem mendigos. Seja Sumaré ou Praia Pequena, sempre haverá mendigos querendo te filar.
  • Comércio de muambas em geral é a coisa mais legal do mundo dentro de um metrô ou trem, sendo mais fácil encontrar nos trens. Você pode comprar qualquer coisa no metrô, canetas, chaveiros, amendoins, calcinha, sutiã, bloco mágico, bonecas, cópias de dvds não autorizadas (todos os gêneros), dentaduras, roupas, bolsas, juízo, comida congelada, fogão, computador, torradeira, ferro de passar, camisinha, sapatos. E tudo por preço de banana. Só que nem é preciso falar que isso só acontece em trens vazios, ou seja, o comércio de muambas anda meio em falta em algumas linhas.
  • Tenha educação. Isso é realmente difícil para quem embarca na linha vermelha do metrô sentido Corinthians – Itaquera, mas faça o maior esforço possível para não encoxar alguém, tire a mochila das costas, não espirre ou tussa na cabeça de alguém, use desodorante, evite falar alto, não ouça músicas sem seu fone de ouvido,  não fique com as axilas na cabeça de ninguém ou o pênis no ombro de alguém.
O metrô agradece e lhe deseja uma ótima viagem.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

ola galera!
Vou deixar um link aqui pra vocês da página do Poeta Andarilho, um grande amigo meu escritor de poemas e poesias, o cara é fera.
new song:

É o que temos

Eu vou lutar sei que posso vencer
sei que a vida é cheia de curvas...
Eu vou lutar sei que posso vencer 
sei que a vida é cheia de curvas...
mas meu sonho é bem maior 
que o meu medo
mas meu sonho é bem maior 
que o meu medo
é um tempo em que acreditar...
é um tempo em que acreditar... é o que temos!

     "E hoje não tenho medo de encarar o novo,
       o frio na barriga é pura adrenalina,
       sonho em minha mente, a coragem esteja sempre presente,
       filosofia de vida em que acreditar, acreditarrrr... é o que temos
     É o que temos."

terça-feira, 14 de maio de 2013

música:

Tentando Entender

Você diz que a vida está no final
se olha no espelho e não vê sua parte real

a caminho da escola você vê pessoas 
se divertindo rindo à toa 

em seu caderno matérias não há 
e suas notas todas irregular

refrão: Não se sinta mal
           você é igual a todo mundo     2x

Inspiração!

Me inspiro em dias melhores, em minha esposa, em minha casa, meu cachorro, meus instrumentos musicais, família, meus sonhos, não sonhos mesmo sabe...? Pois estes fogem do nosso controle durante o sono. Sonhos aqueles que criamos em nossas cabecinhas, luto por eles as vezes com muita intensidade e, por vezes com alguma preguiça, mas não me aborreço por ter preguiça, penso que todos nós somos portadores de tal mal.
   Na vida percorremos ruas como muitos nomes, avenidas bastante movimentadas, cidades com muita luz, povos com outros costumes e nos inspiramos, criamos um novo ser a cada mudança induzida pelo tempo, as vezes até temos que olhar pra dentro de nós pra não nos perdermos tipo, identidade sabe!? E, em meio a tudo isso sofremos frustrações, alegrias, separamos o que nos serve, criticamos ferozmente a "esquerda" hehehe... mas oque dizer? Não sei, só sei que quase tudo vale por inspiração, para mim a inspiração caminha lado a lado com a esperança, com fé e olha que não estou falando de religião, mas é claro que fico feliz se você se apega a Deus, placa de igreja não salva ninguém, estou falando de fé no que você faz ou pretende fazer, fé em você mesmo.
   Desejo que você se inspire no escuro quando não encontrar um interruptor pra acender a luz;
    desejo que você se inspire no desemprego para mudar o foco de sua vida e nesse momento acreditar mais em seu potencial;
  desejo que você se inspire em seus adversários para que supere suas expectativas;
  desejo que a vida te inspire mesmo que o momento seja de desistência!!!
   Inspiração, inspiração, invada a vida de todos que têm sede de vida, que luta pelo melhor e ama a si mesmo incondicionalmente!
    Se inspire!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

música:

Aquecimento Global


Posso sentir as minhas pernas
que já pareciam não estar aqui
meus olhos vermelhos ardendo em chamas
minha boca seca nem mesmo lama...

no asfalto o mormaço sobe
e as árvores dispensam suas folhas secas
e a terra está rachada em pó 
e os rios estão secando...

Aquecimento, aquecimento global
Aquecimento,aquecimento global 


Protocolo de Kioto é o caralho
o mundo vai explodir bando de otários
a natureza vai cobrar o que nós fizemos
e Deus está do lado dela

Aquecimento, aquecimento global
Aquecimento, aquecimento global 


domingo, 12 de maio de 2013

And now...


Quando vivemos o tempo inteiro relembrando o passado, significa que tem alguma coisa errada.

Sério. A partir do momento em que começamos a prezar mais os fragmentos de imagens, sons e cheiros que nosso cérebro armazena de tempos idos, significa que existe um problema.

Pra onde diabos foi o sonho americano? Por que temos sonhos americanos se somos brasileiros? Por que esquecemos que os estadunidenses são tão americanos quanto nós e que, se eles possuem o mesmo sonho que a gente, poderíamos definir isso como um coletivo do povo americano, logo, um sonho americano, que, a propósito, se foi e deu origem a este parágrafo?

O fato é que as lembranças deveriam ser sumariamente apagadas. Construímos castelos de areia em cima delas, assim como montamos em putas. A Nostalgia é uma puta. Nada contra as putas, o fato é que tem gente que come e fica depressivo depois. Não disse que eu frequento prostíbulos e que durmo com vadias, veja lá. Disse que, numa comparação infeliz, eu sou com o passado assim como são os caras que traçam uma prostituta e depois ficam se lamentando. Comeu, comeu, oras. Mas que porra. Ela foi paga pra engolir a sua. Aceite isso.

Eu estava falando do que mesmo? Ah, sim, a Nostalgia é uma puta de quilate considerável, e eu cansei de fodê-la com o vigor de outrora. Cara, é chato. Não é porque cansei dela. Não, não, é que ser visto sempre com a mesma puta passa a ideia de que você é apegado. E de que tem dinheiro, também. Se mantém sempre a mesma vadia, significa que dispende uma quantia considerável de grana, posto que há rampeiras de preço bem mais baixo. Mas gosto é gosto.

E eu cansei do gosto da Nostalgia. Ele me dá como referência coisas lindas de antigamente e que não podem ser reproduzidas. O amarelo de antigamente já não reluz tanto quanto ouro hoje. E o ouro de hoje já não vale tanto quanto outrora. E o conceito de valor mudou, de lá pra cá.

O que Rotterdam diria da minha caracterização da Nostalgia? Que se foda, ele morreu mesmo.

Mas enfim...tudo o que quis dizer na verdade, resume-se ao fato de que hoje em dia, tá muito foda achar uma puta tão boa quanto a que xinguei ao longo dessa postagem. Ela era doce, a Nostalgia. Por que fui enjoar dela?

E agora?

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O almoço

Eu ia fazer macarrão com almondegas no almoço. Era umas 11 da manhã quando fui no supermercado, peguei um pacote de espaguete, um molho de tomate pronto, um pacote de queijo parmesão ralado, o tempero eu tinha em casa. Passei no caixa, paguei os produtos, peguei as sacolas e fui pro carro. 
Era domingo, estava cedo de certa forma. Ninguém iria almoçar em casa naquele dia, era um feriado importante e todos estavam viajando. 
Eu era a última pessoa da cidade. 
Que exagero! Eu não era não, claro. 
Entrei no elevador do prédio onde moro, senti um cheiro gostoso de carne assada. Olhei por debaixo da porta do vizinho do apartamento 56 e vi uma luz. Incontrolavelmente pensei "já que estamos ambos sozinhos na cidade, podíamos almoçar juntos". Podíamos mesmo, se fôssemos amigos, mas até então, eu só o tinha visto duas vezes. E em apenas uma dessas duas é que trocamos três palavras "oi, tudo bem?".  Perguntas automáticas sem resposta. 
Mas aí pensando no vizinho foi que me lembrei, que tinha esquecido a carne moída. Pois não existe almondegas sem carne moída. 
Então desci o prédio e entrei no carro.
E no caminho do supermercado passei na frente de um restaurante japonês exalando cheiro de yakissoba. Aí ja esqueci o macarrão com almondegas e almocei um yakissoba de camarão que comprei e comi em casa. 
Meia hora depois, eu com a barriga cheia de molho shoyo, atendi o interfone, era o vizinho 56, o apartamento da frente, perguntando se eu gostaria de almoçar com ele pois havia assado um pernil e era comida demais para ele. 
O que você faria numa situação dessa? 
Ele era simplesmente o vizinho que eu mais queria conhecer de todos. Nem era por interesses maliciosos, eu só achava que renderia boas conversas com outra pessoa que também achava o álbum "Let It Be" o melhor dos Beatles. Eu aceitei então o convite e pedi que esperasse cinco minutos que eu logo tocaria sua campainha. 
Fui ao banheiro, peguei a escova de dentes e ajoelhei na frente do vaso sanitário. Maldita hora que aquele yakissoba me seduziu. Olho de Thundercats esse meu. 
Enfiei o cabo da escova de dentes com toda força na garganta e nem sinal do yakissoba regressando. Aí me lembrei de quando fingia estar doente pra não ir pra escola quando criança. Não era força nem manha, era só escovar o céu da boca suavemente. Logo veio o vômito, e veio com tanta violência que saiu pela boca e nariz, me derrubou com a agressividade e só ficou o banheiro sujo e o estomago vazio. 
"Olá vizinho? Como vai? Eu adorei o convite, é raro um homem cozinhando, imagino que esteja delicioso" 
O pernil assado estava uma delícia! 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Louca Vida

Vida, vida louca!
criamos expectativas, buscamos, alcançamos e tudo se esvazia...
Vida, vida louca!
 quero muito ir de encontro aos sonhos, porém continuo dormindo...
Vida, vida louca!
busco me surpreender, mas tudo parece tão previsível...
Vida, vida louca!
alguém mencionou que posso praticar sexo com as palavras! Melhor que é verdade...
Vida, vida louca!
muitas armas são usadas, mas nenhuma se iguala ao poder das palavras...
Vida, vida louca!
me trás pensamentos e vazio mental tudo em apenas um único dia...
Vida, vida louca!
disparo para vida, simplesmente porque viver é bom mesmo sem saber o sabor ao certo...
Vida, vida louca!
alguns abominam o meio termo e você sempre os surpreende com o tal...
Vida, vida louca!
vivemos num tempo onde a tecnologia nos deixa muito mais informado, será? Ainda não sabemos como foram feitas as piramides do Egito...
Vida, vida louca, vida sã, vida calma, vida sozinha, vida do Eu, vida do Seu, enfim todas as vidas... a única certeza que tenho é que viver é muito bom pelo simples prazer de não ter um manual de instruções!

Celestian Non-Sense Justice of Hell



Ok, eu morri. Certo.

Na porta da minha casa, eu consigo ver meu corpo caído. Poxa. Na porta da minca casa...

O cara tinha uma sombra de bigode. Não deveria ter nem dezessete anos. Miserável. Levou relógio, celular, minha vida e a alegria da minha famíla. Puto, ainda estava pagando o smatphone.

De toda forma, uma hora eu cansei de ver minha mãe agarrada ao meu corpo e resolvi sair dali. Quando ligariam para minha namorada? Talvez minha irmã já tivesse ligado. Meu pai, provavelmente estaria louco para ir atrás do meu assassino.
Fica em casa, pai, por favor. Fica com minha mãe, vai ser ruim perder o senhor também.

A consciência de minha morte não me afetou. Quer dizer, não chorei por estar morto. Nem fiquei triste por ver meus planos destruídos por um adolescente com uma 38. Fiquei chateado pela minha família. Acho que gostavam de mim. Minha namorada vai chorar um pouco, não tanto quanto minha mãe, veja lá. Talvez depois de um tempo, ela encontre um cara legal.

A vida continua, oras. Mas não para mim.

Me senti muito atraído por uma direção da rua. Na hora senti que estava ligado ao meu assassino. Ora, vai ser divertido. Resolvi dar um sustinho nele. Já que eu estava consciente e nenhum anjo loiro tinha ido me buscar...

Me desloquei até lá. Andando, óbvio. Eu pensava que almas flutuavam, mas eu cheguei até ele andando. Enfim, ele já estava bem longe da minha casa, outro bairro, talvez outra cidade. Caramba, como cheguei aqui? Mais rápido que fretado.
Pensei que a morte não me traria benefícios. Vivendo e aprendendo.

Ele estava ali, sob efeito de drogas, sentado. Não sei como, mas percebeu minha chegada. Não teria graça desse jeito. Eu o queria lúcido. Resolvi esperar.

E esperei....muito aliás, mas ele saiu do domínio do narcótico. Pude sentir isso.

E aí ele me olhou. Com medo.

Fiz de tudo um pouco. Gritei, derrubei coisas, assoprei no ouvido dele, levitei objetos, vi-o se urinar todinho, enfim. O cara era muito crédulo. Eu não estava assombrando de verdade, afinal, era só uma brincadeira.Ele não percebia?

Poxa, se ele porta uma 38 com tanta segurança, deveria ter um pouco mais de coragem. O coração dele não teve e resolveu ir dormir, levando todo o resto junto.

E foi aí que eles surgiram. Brancos, reluzentes, toda aquela coisa luminosa. Disseram que eu seria julgado.

 - Ele era menor de idade - disse um deles.

E eu com isso?

 - Você não teve misericódia. Ele seria punido pelos seus crimes se você não se intrometesse. Havíamos definido uma pena padrão de três anos de sofrimento com direito à redenção no final. Tirou isso dele, e agora será julgado.


Seguiram-se uma sucessão de acusações e termos que julguei serem usados na justiça dos homens apenas: Homicídio doloso, premeditação, etc, etc. Eu já estava farto. Pedi licença para acompanhar os preparativos de meu funeral. Licença negada.

- Se estou em julgamento, julgo também ter direito a um advogado.

 - Seu caso é grave; Devido ao apelo das massas, poucos advogados públicos querem tomar sua defesa.

- E a Justiça não pode indicar um?

- A Justiça somos nós. E julgamos que você é culpado de todas as acusações.

Tentei apelar para legítima defesa.

- Negado. A vítima estava indefesa e foi atacada dentro de sua residência. Não houve um prévio ataque.

Desisti. Tentei fugir, mas foi em vão. Fui pego e tive mais uma acusação em minha ficha, resistência à prisão, mesmo eu já estando preso e sob julgamento.

- A sociedade clama por Justiça. Será escoltado até o complexo presidiário e lá cumprirá sua pena.

Eu nem quis saber qual era ela. Também não me disseram.
Foi-me negado o direito de ver meu próprio sepultamento, não tive o bolsa-presídio...porém, meus juízes foram misericordiosos e fiquei em uma cela separada; Soube que queriam minha cabeça por ter matado um menor de idade.

Escrevi uma carta aos meus pais, pedindo que me ajudassem. Que encontrassem um advogado pra me tirar daqui. Que me visitassem. Ou, pelo menos, que me mandassem um maço de cigarros. Saí do isolamento e tem um cara jurando que vai me matar se eu não der um cigarro pra ele.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Picolé de Morango


Let's play!

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O frio na barriga que sentira lendo histórias de terror na internet nem de longe lembrou-lhe o medo cruel e verdadeiro de ver, sentado folgadamente em sua cama, um fantasma.

-Vendo coisas assustadoras no computador, não é? - indagou ele; Era uma pergunta retórica, o jovem sabia muito bem que ele conhecia a resposta - Isso tem acontecido com frequência de uns tempos pra cá.

O fantasma não se parecia em nada com o que as velhas lendas diziam; Longe de ser transparente e de fazer sussurros com a boca, também não se vestia de preto e não parecia interessado em atacá-lo. Antes parecia um ser polido e refinado.

-Quem é você? - perguntou o jovem, após uma longa e suarenta pausa. O fantasma riu, suavemente.

-Digamos que sou alguém que gosta da verdade. Não vá pensando que sou um "fantasminha camarada", não, longe disso. É que eu detesto essas modinhas, lendas urbanas, aparições bizarras em fotos, creepypastas e companhia. A esmagadora maioria disso tudo é falsa. Pode ter certeza de que os responsáveis por essas mentiras estão em minha companhia agora - ele riu outra vez, como que para suavizar o que dissera. Não conseguiu. - Antes de tudo, sou um amante das boas coisas - mexeu em um dos bolsos, tirou um potinho com balas e disse, educadamente: - Aceita? Não? Então comecemos.

-Comecemos o quê? Não quero começar nada! - esganiçou o jovem.

-Como não? Você procurava algo para te aterrorizar... Eu estava sem nada
para fazer, e então... Aqui estou. Vim lhe proporcionar o verdadeiro terror.

O jovem, se é que era possível, empalideceu ainda mais. A aparição sorriu quase que com bondade: - Relaxe - disse ela - Não é nada do que está pensando. Olhe, vamos dar um exemplo. Vê este livro? - e mostrou-lhe um volume encadernado em couro falso, sem nada escrito nas capas ou na lombada. Provavelmente não havia nada escrito em parte alguma. Mas continuou o fantasma: - Eu estava lendo-o enquanto esperava você me notar. Funciona assim: Eu te dou o livro; A partir do momento em que o tocar, estará dando um passo rumo à danação. Mas haverá um momento em que poderá, digamos, recuar. Se tocar o livro, mas resolver não abri-lo considerarei o seu medo, e você imediatamente dormirá e se lembrará de nada depois. E é isso. Claro que o livro é só um exemplo.

-E se eu não quiser sequer pegar o livro? É meu direito de escolha.

-Ah, sempre pegamos gente como você - suspirou o visitante - Não vê que não tem direito algum, e que podemos fazer você sofrer só de nos encarar? Partimos do princípio de que, se alguém procura o medo, uma hora esse alguém há de se deparar com ele. Você tem sorte de eu estar aqui. Mas enfim. Se não aceitares receber o livro, por exemplo, considerarei que recusou a chance de escapar e então apresentarei-lhe o verdadeiro terror. Venha, comecemos. Tome o livro.

-Ele não era só o exemplo?

-Não tenho nenhuma outra ideia melhor.Venha, deite-se, e pegue o livro.

A aparição, com um sarcástico sorriso, saiu de sua cama e deu-lhe o livro.

-Vamos, abra-o.

-Não quero.

-Então recusas o verdadeiro terror? Estou decepcionado. Vamos, durma.
-Quero te pedir uma coisa.


-Só posso lhe oferecer o medo.

-Faça um esforço.

-Diga lá então.

-Faça com que eu não esqueça isso.

-Garanto-lhe que abrindo o livro jamais se esquecerá.

-Mas não quero me danar eternamente. Porém, prefiro guardar esse encontro.

-E pensas que é assim? Você me chamou. Assumiu os riscos. Olhe, entenda, se fosse outro no meu lugar, a essa hora você já seria um espectro do pavor.

-Se pode me dar a escolha de sofrer ou não, por que não me deixa escolher guardar a experiência?

-Faz sentido. Dê-me o livro. Agora durma. Se lembrará de mim.

E o jovem dormiu.
Passaram-se muitos dias, e o moço evitou desesperadamente procurar o terror. Mas sentia-o a todo instante. Passou a temer olhar-se no espelho e encontrar o fantasma novamente. Fugiu de livros e sites de assombração. Não encarava mais ninguém nos olhos, por medo de, no reflexo, enxergar alguém atrás de si.

Começou a tomar calmantes. Tinha medo do escuro, indo dormir todos os dias com as luzes acesas, quando não ia para a cama ainda no claro. Por fim, lembrou-se de que a aparição havia deitado em seu colchão, e passou a dormir na sala. E arrependeu-se de ter desejado não esquecer.

***

Quando deram por si, não estavam mais sozinhos.

- Não há combinação mais bizarra, porém mais deliciosa do que o medo e o prazer – disse a assombração, tirando um pote de balas do bolso – Aceitam? Não? Pois bem, comecemos.

O casal estava aterrorizado. Esqueceram-se de sua nudez e do filme de terror que insistia em fazer ponta naquele espetáculo bizarro.

Ele riu, olhando para a televisão - Já ia me esquecendo, foi por isso que vim...odeio essas coisas. Horror barato. Permeado de sexo sujo. Poderia haver mais intensidade no prazer e menos clichês nas cenas macabras. Conheço o diretor dessa fita, pena não ter sido eu quem o pegou.

- Mas o que é você? – gaguejou o homem.

- Bom, o quê eu sou seria a pergunta ideal. Posso? – sem esperar resposta, aboletou-se numa poltrona – Digamos que sou um desmistificador. Vim lhes apresentar a real forma do medo. Não gosto dessas coisinhas, filmes de terror e sexo, mensagens subliminares, brincadeiras do copo, evocações de espíritos, aparições em vidros... Tudo isso é muito fantasioso, e eu sou muito real. E como partimos do princípio de que se não quiser comer da linguiça não se deve matar o porco, buscamos aqueles que tanto nos procuram nessas coisas.

- Nós não o chamamos aqui! – foi a vez de a mulher balbuciar.

- Ah não? E esse filme deplorável? Não me venham com essa de que estavam curtindo apenas as partes eróticas. Há fitas apropriadas para isso. Logo, vocês me chamaram. Agora vamos.

- Não! – o homem ergueu-se de um salto. O fantasma continuou sentado, levantando apenas uma sobrancelha – Aquiete-se, homem, apenas me escute.

Mas o sujeito tentou agarrar a aparição pelo pescoço. O ar ficou pesado.

- Você cometeu um erro, humano! – chiou a coisa, com mil vozes diferentes; Segurou o braço do infeliz, que começou a apodrecer.

As feições do fantasma estavam horrendas, contorcidas num sorriso de esgar:
 - Vejam! Uma cena erótica! Vamos, façam o amor! Vamos, façam! – a assombração amenizou um pouco as mil vozes: - Se não me tivesse desafiado, humano, eu lhes daria uma chance de escapar ao terror. Mas agora – estava novamente com as vozes malignas – Eu quero que façam amor! E você, mulher, cuidado quando acabarem, ou ficará para sempre ligada a ele, se é que me entende.

E saiu.
***

Foi com um suor frio a correr-lhe pela espinha que o jovem novamente entrou em um site de creeepypastas.

Ele havia tentado, desesperadamente, livrar-se daquela sensação asfixiante, a mania de perseguição... Mas
Deus sabia como havia sido difícil. Se é que Deus realmente tinha controle sobre esse tipo de coisa.

Por incrível que pareça, sentiu-se bem ao entrar no site. O medo desapareceu como mágica. Há dias que não se sentia assim... Normal.

O monitor apagou-se, do nada. Então ele o viu. Olhando-o. As pupilas brancas.

O terror voltou-lhe de um só golpe, junto com uma lufada daquela estranha sensação de bem estar; Ao olhar para sua cama, lá estava a aparição, um sorriso meio polido, meio debochado. E os olhos, normais. Humanos.

- Eu quase acredito que você gosta de mim.

- Precisava me livrar de uma vez de você.

- Isso já poderia ter acontecido, caso não tivesse implorado para esquecer.

- Sabe que não conseguiria. Preciso disso.

- Olhe, não gosto de melodramas. Sabe, isso que está fazendo. Faz-nos parecer um casal. Detesto esse tipo de coisa tanto quanto aquelas frases “Eu te vejo, e você me vê?” em imagens ditas “tenebrosas”. E também detesto pupilas brancas e aparições de mil vozes.

- Você acabou de me aparecer desse jeito.

- Ah, é? Estou muito clichê ultimamente. Quer uma bala?

- Não. O que está insinuando?

- Nada. Agora comecemos. Aqui tens a chave de um armário.

- Do meu armário.

- Que seja. Detesto monstros no armário também. Enfim. Aqui tens a chave do, digamos, seu armário. É realmente seu? Façamos um teste, vamos, você o conhece bem. Assim que colocares a chave na fechadura, estará dando um passo rumo à danação. Valem as mesmas regras do livro, aliás, lembra-se dele? Te empresto. Então, se deres uma volta na fechadura, darei0lhe a chance de deitar-se e dormir. Mas se destrancares a segunda volta, eu lhe deixarei em frente ao medo. Então, você estará danado. Que me diz?

O jovem tomou a chave. Estava suado e tremia, mas destrancou rapidamente a primeira volta. A visita aguardou.

- Vamos, não tenho o dia todo.

- Digamos que sou um amante das boas coisas – e destrancou a segunda.

O fantasma sumiu então.

O dono do armário olhou ao redor, como se certificando se aquilo estava realmente acontecendo. Sua mão ainda tinha a chave na fechadura. Um silêncio anormal abateu-se no quarto. Seu corpo arrepiou-se, e o susto comum que o forro de sua casa dava, ao estalar devido aos ratos, quase matou-o.

Virou-se para ir embora, mas uma aparição deformada agarrou-lhe e puxou para dentro do móvel de portas arreganhadas, tão rápido que o jovem mal escutou os gritos.

Quando finalmente deram por sua falta, só sentiram um doce e suave odor pairando pela casa.

***

O cheiro desagradável mal lhe incomodava agora. Há três dias que o cadáver dele ali jazia, e ela limitava-se a olhar para ele e balbuciar.

Finalmente, quando pareceu ser mais de meia noite, por puro instinto resolveu parar de fitar o que sobrara do seu namorado. E o que viu em seguida petrificou-a ainda mais.

- Adoro essas entradas triunfais, sabe. Um fantasma à meia noite, observando sua vítima, muito bom. – Ele olhou para o corpo que se decompunha

– Três dias... Talvez quatro ou cinco... Quem se importa? Mas vejo que ainda está ligada a ele. Sabia que isso pode causar algumas infecções cruéis?

- Você! O que quer agora?

- Ora, digamos que eu seja um admirador. Sabe, eu gosto das coisas apelativas, clichês, bordões do gênero, entende? Tudo isso me inspira. E convenhamos, esse cenário, para mim, é irresistível. Um cadáver, sua companheira, uma fita de terror (ainda está passando?), e um orgasmo de dias. Adorável! – exultou a aparição – Bom, vim lhe mostrar minha visão do medo. – Tirou um picolé dos bolsos – Aceita? É de morango. Gosto de morangos. Não quer? Então, comecemos.

domingo, 5 de maio de 2013

Velhice

Foi tudo bem simples, foi fácil de entender.
Um dia, ela ia passando pela catraca do ônibus e o viu todo enrolado em sacolas, confuso e atrapalhado no fundo do ônibus. Foi assim, rápido, se apaixonaram ali mesmo, meio dúzia de trocas de olhares, um meio sorriso coberto de barba, um sorrisinho delicado mostrando a covinha e passaram a se falar todos os dias. Foi simples como uma música do Soulstripper.


Logo os amigos se aproximaram do simpático casal, ela loura, ele moreno. Ela gorda, ele magrelo. Era simpático sim, vá lá. Cinema, pipoca, praia, pesca, almoço com família, churrasco com os amigos, casamento do irmão dela, velório do tio dele... Normal demais. 


Então casaram. Ela linda de véu e grinalda, buquê de rosas amarelas na mão, os olhos brilhando como uma bijuteria recém adquirida, as mãos trêmulas vindo na direção do altar.


Foram para Porto Seguro na lua-de-mel, começaram a ser felizes de verdade. Compraram uma casa, um quintal pequeno com um espaço gramado que podiam manter a árvore de camélia que florescia todo ano. Ela ficou grávida, teve uma filha loura como ela, magrela como ele. 


Só que aí... um dia ela olhou para o rosto dele. Havia acabado de acordar, estavam no banheiro. De repente ela o achou diferente. Não sabia exatamente o que era, mas estava com uma expressão cansada, entediada. Vários dias passaram, vários meses depois, ele permanecia com aquela expressão de cansaço crescente na face. Então ela insistiu em levá-lo ao médico para um check-up, só que ele tinha um estado perfeito de saúde, nem mesmo problema de visão. Aquilo a incomodava, e o pior é que só ia aumentando.

Passaram-se anos, a menina já estava crescendo, e a expressão de cansaço no rosto dele ia ficando mais presente, mais marcante. Ela continuava sempre linda, sorridente, o rosto redondo com a pele esticada da juventude, mas ele, já juntava uma quantidade considerável de dobraduras minúsculas ao redor dos olhos. Ela não sabia lidar com aquilo. Talvez fosse alguma deficiência hereditária da família dele, assim como a calvície.
Foi então que já muito tempo passado, receberam o convite de casamento de sua filha com um outro rapaz. Seria uma enorme felicidade ver sua filha se casar, assim como fora consigo. Ela ainda estava linda como no dia do casamento. Mas seu marido não era nem a sombra de quem um dia ela encontrou atordoado no fundo de um ônibus. 


Perguntaram na festa se ele era seu pai... E então tudo mudou. Depois daquele dia ela passou a pesquisar sobre o que poderia estar se abatendo sobre seu marido, não foi nada fácil pra ela diagnosticar a causa. Se divorciaram, sua mãe lhe dizia "Você é louca, abandonar seu marido depois de tanto tempo", mas ela não sabia lidar com aquele tipo de problema. 

Algum tempo depois, sua filha ao visitá-la, perguntou porque ela quis se divorciar. Ela olhou para dentro de si mesma, questionando se poderia contar a filha qual era o problema que seu pai tinha. Resolveu contar o que tinha descoberto, que o problema de seu pai se chamava velhice e que não tinha cura. Então suspirou e disse "Eu espero que ele nunca descubra pois isso acabaria com ele". 


Iupi!


Já temos os autores confirmados :D