terça-feira, 25 de março de 2014
Todos os dias uma parte nossa ainda barro precisa se tornar cerâmica
Todas as horas que ainda não aconteceram precisam ser preenchidas
todo o sorriso incubando precisa de um bom motivo pra acontecer e então se tronar gritante
Toda dor guardada precisa de um incentivo para com as lágrimas sufocadas
E se há alegria em abundancia essa precisa ser partilhada
todos os dias enfrentamos o novo mesmo pensando que será mais um dia igual ao ontem...
todas as pessoas estão no mesmo lugar, todos os lugares estão nas mesmas pessoas, todas as horas não serão as horas das mesmas, então sempre terá uma segunda-feira, sempre haverá os outros seis dias da semana, mas nunca será o mesmo!
Todos os dias uma parte nossa ainda barro precisa se tornar cerâmica!
As obras do museu da mente
A sombra de um corpo, negro, musculoso, recortado pela luz da tv, nu, deitado no sofá.
Os olhos castanhos brilhando num beijo de olhos abertos, dentes contra dentes, e o sol ao fundo, emoldurando-os.
O nascer do sol sobre uma rua muito cinza e movimentada, onde a direita, destacava-se um grande mural colorido, grafitado, de um desenho estilizado tal qual uma HQ, na lateral inteira de um edifício.
Uma imensidão de cinza, pesado como se fosse desmoronar, sobre um vasto acaso de pessoas se movimentando, alheias.
Verde muito escuro, tremulante, águas profundas, com uma moldura verde da mata atlântica. E sobre eles, o céu azul que doía.
O nude sobre a pele, os dentes brancos a centímetros da face oposta, um ramo de margaridas e um grande pasto ao redor, onde só as vacas testemunharam um beijo.
As luzes de uma cidade escondida. Linda, reluzente, esbanjando a esperança que não se vê de dia.
Uma linha perfeita de dentes brancos, com caninos levemente saltados. Labios sorrindo, olhos concentrados, maos grandes e braços que faziam um estranho angulo para oferecer um abraço que nunca aconteceu.
Uma noite fria mas salpicada de exaltação no ar. Estrelas aviões, fumaça, helicópteros, tudo isso garantindo a liberdade extraída das musicas de um palco de show.
Entre tanto concreto, paredes inúmeras de palhaçadas conscientes numa estação de trem. Passadas em alta velocidade, só dava tempo de notar o borrão de cores, capaz de animar por um minuto. Mas capaz.
O céu como um infernal espaço atemporal, e a terra abaixo do vidro das janelas de um avião, totalmente alheio e anacrônico ao resto do céu que a envolve.
sexta-feira, 21 de março de 2014
terça-feira, 18 de março de 2014
22 (You know a little about it?)
Havia um louco céu estrelado,
alguns astros bem mais luminosos...
poderiam ser estrelas?
planetas habitáveis em órbita, será?
you know a little about it?
Beleza, prossigamos...
intensas forças comandavam seus movimentos;
regras ininteligíveis a nós.
talvez não, quem sabe?
horas disformes das nossas,
dias mais curtos.
anos? Nós temos um.
you know a little about it?
Todas as vantagens lá,
os problemas deixados aqui...
You know a little about it?
o universo não é segredo pra você?
um mistério pra Humanidade?
De todos os orbes lá suspensos,
alguns mais belos, eu sei,
ruas de ouro,
luas de prata!
impérios esquecidos,
nada de procurá-los!
glórias perdidas no céu estrelado.
domingo, 16 de março de 2014
Química
Não há sabedoria no mundo que explique o que é uma união de células, milhares, milhões, bilhões delas agindo a respeito de uma só força. A troca contínua de substâncias aumentava ao máximo crescente entusiasmo. As ondas que vinham já não faziam sentido, a não ser pelo fato de terem sido emitidas pela sua existência. Havia aromas indescritíveis na aura, energias ao redor, quase visíveis, poder de fixação que ia e vinha dos olhos prendendo-os de forma que nem o mais sólido dos elementos poderia separar.Combinando-se como ondas sonoras eletromagnéticas num só ritmo, os corações bombeavam, se esgotavam , acreditando na percepção de que ali, acontecia um ato único. Ambos os labirintos tremulavam ao mínimo som dos corpos trabalhando, eram os pólos se atraindo, ou eram os três estados se fundindo, toda a estrutura carnal se prontificou de forma logicamente irracional.
Não havia toque, mas os gases que rodeavam ambos os corpos possuíam-os de forma a uni-los sem saberem. Fechava um ciclo químico que duraria infinitamente um segundo. Os corpos se reconheceram e se queriam, seriam unos e únicos, mesmo que isso não fosse totalmente perceptível, era possível saber, pertenciam-se até o último dia que suas razões anacronicamente entrelaçadas pudesse conceder.
quinta-feira, 13 de março de 2014
quinta-feira, 6 de março de 2014
Eu sei que você não vai ler
...e eu sinto muito por isso. Eu realmente gostaria que você me visse agora, adulta, e também queria poder olhar aquela pinta no canto da boca que você tinha vergonha.
Pensei em muitas coisas pra te dizer, durante a vida inteira. Como por exemplo "eu sempre soube que você era gay" e "eu senti sua falta" ou "eu te amo de qualquer jeito". Você foi o irmão que eu sempre quis ter na infância, meu melhor amigo, meu companheiro de dividir churros, irritar cachorros de rua, soltar pipa e cair os mais épicos tombos de bicicleta. Eu te amo tanto que até dói, jurei que isso não seria nunca uma despedida, um adeus.
E não será.
O garoto enrustido, amável e meigo que conheci e convivi os melhores dias da minha vida vai permanecer comigo, e a cada personagem criado por mim, você renascerá.
Você será para sempre, o mais cítrico dos meus amigos, o mais amado e a sua candura da infância estará sempre intacta em minha memória.
Em memória de Hiago Santana Bennesby
terça-feira, 4 de março de 2014
A um passo do passo-a-passo da magia.
"Um passo de cada vez..."
Me lembro. Palavras que, naquela época, fizeram sentido,e que hoje, ainda fazem.
Retrocedo três anos a cada minuto vivido, e não me pergunte o que isso significa. Eu tive um planejamento antes de tudo, assim como já existia civilização nas Américas antes dos europeus chegarem aqui.
Um passo de cada vez, sim. Uma palavra por vez, também. Sem pressa. Sem ansiedade, afobação. Os melhores feitiços não são cuspidos de tão rápidos que são ditos, mas cantados. Com calma. Ritmo. Não há necessidade de acelerar o tempo. Letras podem se rearranjar novamente, de diversas formas e em diversos meios.
Quem sabe um dia não arrumo tudo outra vez, numa carta? Num pedaço de papel? Em qualquer lugar visível aos seus olhos? O tempo não importa, não mais (não para mim). Palavras, elas sim são importantes. E os passos. Uma paridade ímpar.
Não é à toa que músicos marcam o tempo com batidas dos pés...Pé, passos, músicas que são palavras cantadas, quase como feitiços.
Numa relação que é mágica. Uma mágica escrita, encantamentos para que você possa ler, um dia.
Mesmo que a um passo de cada vez...deixe que a magia aconteça =]