sábado, 19 de abril de 2014

Bienvenido - Parte 1: a noite

O céu era de um cinza azulado, ou azul acinzentado. Não importa, o cinza estava lá de qualquer jeito.
De noite, os lobos e coiotes se misturavam aos bandidos e coiotes num gole de pulque que não tinha fim pela serragem da pulquería. Ora eram desesperados, ora eram desocupados, os que procuravam os coiotes nos seus momentos sublimes de boemia.
Os sons de risada, uivos e cantoria eram, por fim, um som só, a trilha sonora perfeita para o lugar onde todas as noites era a noite mais louca da vida de alguém.
Con el coyote no hay aduana.

As putas, eram pedaços de algo que um dia já tinha sido mulher, cheirando a tequila e cerveja quase sempre, sentavam no seu colo em qualquer que fosse o lugar, bar, pulquería ou prostíbulo. A música alta, reggaeton, era no mesmo ritmo dos soluços e gritos dos bêbados.

A noite não tinha fim. A erva era queimada com naturalidade e se transformava logo em vermelhidão nos olhos dos loucos que estavam sempre dispostos a odiar o lado de lá.

Odiar o lado de lá era algo comum a todos, velhos, senhoras e cachorros, todos odiavam com o mesmo vermelho-ódio nos olhos.

Os arruaceiros passavam pela aduana através de um túnel subterrâneo, mas somente eles ainda tinham essa coragem. O túnel passava milhares de metros abaixo do rio que separava a terra batida dos bebedores de pulque, da terra estrelada do lado de lá. A cada semana, novos mortos eram descobertos no caminho subterrâneo para o lado de lá.

Os policiais locais não existiam naquele lugar. Ficavam apenas nos arredores, já que um tipo diferente de máfia havia se alocado por lá.

E era a máfia que indiretamente mantinha tudo por lá. Faculdades, postos médicos, cassinos, universidades - públicas, diga-se de passagem.

A noite, a máfia era todos, e todos queriam a máfia. Afinal, quem não quer morar na terra estrelada do outro lado do rio?

Em Tijuana não. Os méxicanos de La Ultima Ciudad, como era conhecida, não. Mas eram os melhores em fazer tal serviço.

Mas ainda havia o dia.

Bienvenido a Tijuana: tequila, sexo e marijuana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário