quarta-feira, 8 de maio de 2013

Celestian Non-Sense Justice of Hell



Ok, eu morri. Certo.

Na porta da minha casa, eu consigo ver meu corpo caído. Poxa. Na porta da minca casa...

O cara tinha uma sombra de bigode. Não deveria ter nem dezessete anos. Miserável. Levou relógio, celular, minha vida e a alegria da minha famíla. Puto, ainda estava pagando o smatphone.

De toda forma, uma hora eu cansei de ver minha mãe agarrada ao meu corpo e resolvi sair dali. Quando ligariam para minha namorada? Talvez minha irmã já tivesse ligado. Meu pai, provavelmente estaria louco para ir atrás do meu assassino.
Fica em casa, pai, por favor. Fica com minha mãe, vai ser ruim perder o senhor também.

A consciência de minha morte não me afetou. Quer dizer, não chorei por estar morto. Nem fiquei triste por ver meus planos destruídos por um adolescente com uma 38. Fiquei chateado pela minha família. Acho que gostavam de mim. Minha namorada vai chorar um pouco, não tanto quanto minha mãe, veja lá. Talvez depois de um tempo, ela encontre um cara legal.

A vida continua, oras. Mas não para mim.

Me senti muito atraído por uma direção da rua. Na hora senti que estava ligado ao meu assassino. Ora, vai ser divertido. Resolvi dar um sustinho nele. Já que eu estava consciente e nenhum anjo loiro tinha ido me buscar...

Me desloquei até lá. Andando, óbvio. Eu pensava que almas flutuavam, mas eu cheguei até ele andando. Enfim, ele já estava bem longe da minha casa, outro bairro, talvez outra cidade. Caramba, como cheguei aqui? Mais rápido que fretado.
Pensei que a morte não me traria benefícios. Vivendo e aprendendo.

Ele estava ali, sob efeito de drogas, sentado. Não sei como, mas percebeu minha chegada. Não teria graça desse jeito. Eu o queria lúcido. Resolvi esperar.

E esperei....muito aliás, mas ele saiu do domínio do narcótico. Pude sentir isso.

E aí ele me olhou. Com medo.

Fiz de tudo um pouco. Gritei, derrubei coisas, assoprei no ouvido dele, levitei objetos, vi-o se urinar todinho, enfim. O cara era muito crédulo. Eu não estava assombrando de verdade, afinal, era só uma brincadeira.Ele não percebia?

Poxa, se ele porta uma 38 com tanta segurança, deveria ter um pouco mais de coragem. O coração dele não teve e resolveu ir dormir, levando todo o resto junto.

E foi aí que eles surgiram. Brancos, reluzentes, toda aquela coisa luminosa. Disseram que eu seria julgado.

 - Ele era menor de idade - disse um deles.

E eu com isso?

 - Você não teve misericódia. Ele seria punido pelos seus crimes se você não se intrometesse. Havíamos definido uma pena padrão de três anos de sofrimento com direito à redenção no final. Tirou isso dele, e agora será julgado.


Seguiram-se uma sucessão de acusações e termos que julguei serem usados na justiça dos homens apenas: Homicídio doloso, premeditação, etc, etc. Eu já estava farto. Pedi licença para acompanhar os preparativos de meu funeral. Licença negada.

- Se estou em julgamento, julgo também ter direito a um advogado.

 - Seu caso é grave; Devido ao apelo das massas, poucos advogados públicos querem tomar sua defesa.

- E a Justiça não pode indicar um?

- A Justiça somos nós. E julgamos que você é culpado de todas as acusações.

Tentei apelar para legítima defesa.

- Negado. A vítima estava indefesa e foi atacada dentro de sua residência. Não houve um prévio ataque.

Desisti. Tentei fugir, mas foi em vão. Fui pego e tive mais uma acusação em minha ficha, resistência à prisão, mesmo eu já estando preso e sob julgamento.

- A sociedade clama por Justiça. Será escoltado até o complexo presidiário e lá cumprirá sua pena.

Eu nem quis saber qual era ela. Também não me disseram.
Foi-me negado o direito de ver meu próprio sepultamento, não tive o bolsa-presídio...porém, meus juízes foram misericordiosos e fiquei em uma cela separada; Soube que queriam minha cabeça por ter matado um menor de idade.

Escrevi uma carta aos meus pais, pedindo que me ajudassem. Que encontrassem um advogado pra me tirar daqui. Que me visitassem. Ou, pelo menos, que me mandassem um maço de cigarros. Saí do isolamento e tem um cara jurando que vai me matar se eu não der um cigarro pra ele.


Um comentário:

  1. caraca velho muito bom... existe um protesto de maneira irônica e divertida! parabéns.

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